Thursday, April 11, 2013

As pessoas à minha volta eram todas bastante mais velhas e tinham um aspecto bem mais desesperado do que o meu. Eram quase oito horas, de um sábado à noite, e éramos quatro. Eu percorria os títulos dos livros com os olhos, à procura de um que me chamasse à atenção; à minha esquerda uma senhora dos seus cinquentas passava a mão em todos, tirando um de vez em quando para ler uma dezena de frases antes de o devolver à prateleira; sentada num banco ali perto uma mulher folheava um dos livros da OSHO, sendo interrompida ocasionalmente pelo filho com não mais de seis anos que se ia entretendo com os livros infantis; ao meu lado um homem de raça negra olhava fixamente para os livros de culinárias, na esperança de que ninguém reparasse que na primeira oportunidade passaria para a prateleira do lado. Éramos, sem dúvida, um grupo estranho. Inevitavelmente perguntei-me o que os teria levado a ir às oito da noite de um sábado à secção de livros de auto-ajuda e espiritualidade de uma conhecida livraria de um centro comercial de Lisboa. Por momentos senti-me mal, como se não tivesse o direito de ali estar a partilhar com aquelas pessoas um momento que podia ser para elas decisivo, como se as razões para eu ali estar não fossem tão válidas como as delas. Na verdade, nem sequer sabia bem quais eram as razões para ali estar.
Os meus olhos passaram por um livro que a senhora ao meu lado acabara de pousar. Na capa estava escrito com letras garrafais 'O Dalai Lama', seguido de um outro nome e, só no fundo, o título do livro: 'Um Guia para a Vida'. Com aproximadamente 300 páginas, era o resultado de várias conversas entre Dalai Lama e um psicólogo americano sobre os mais diversos temas e cujo objectivo era perceber o ponto de vista do budismo sobre uma série de situações, e de que maneira é que os princípios do budismo poderiam ajudar a sociedade ocidental na busca da felicidade. Gostei do formato: afinal de contas, sempre gostei da confrontação e discussão de ideias e princípios. Deixei um sorriso aos que por lá ficaram e dirigi-me à caixa.

O livro tem-me acompanhado nos últimos tempos. Vou a meio e, se não servir para mais nada, está a ajudar-me a ver o mundo com outros olhos enquanto o leio. Não sei se vai mudar a minha vida. Mas para já estou a gostar, e neste momento é o que importa.

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