Sunday, April 29, 2012

Às vezes sou preconceituosa.

45 minutos de brasileirada na viagem para Lisboa, vinda de um telemóvel de um colega. Não gosto de música brasileira. Posso ouvir num bar, numa festa, mas não é, garantidamente, música que ouça no dia-a-dia. E sim, tenho alguma dificuldade em perceber quem o faz. E não vou dizer que não o critiquei internamente por isso, e que não o chamei de parolo. E depois eu pus Queen e Beatles e Simon and Garfunkel e Caro Emerald e Damien Rice. E ele sabia as letras de cor. Toma lá, para aprenderes a não ser preconceituosa!



(Achavam que eu era perfeita, não era? Pois bem, não sou.)

Saturday, April 28, 2012

O meu 1º Congresso de Cirurgia



Foi brutal.


E a road trip de regresso à capital também.


(E o regente da cadeira de Cirurgia I cumprimentou-me. Só estive uma vez com ele. Na oral que não foi o que devia. E ele lembra-se de mim. Vergonha.)

Wednesday, April 25, 2012


Uma sessão de estudo no Starbucks em Belém, um almoço programado para o Pão Pão Queijo Queijo que acabou por ser num sítio bem mais fancy e um caramel macchiato que acompanhou uma viagem de autocarro em vez de uma desgravada. Há dias que, mesmo repleto de planos que saíram furados, são perfeitos.

Tuesday, April 24, 2012

Após quatro dias de diversão, rambóia e borga, estou de volta a Lisboa. Sabe-me bem o silêncio da minha casinha e o banho de água quente (água quente, minha gente! Durante o banho todo! Que saudades!). Gostei destes diazinhos para desanuviar a cabeça, para sair e dançar e rir e fazer asneiras qb. Dispensava parte do drama (descobri que vivo rodeada de drama queens e drama kings), o vento (responsável por grande parte dos acontecimentos negativos nestes dias, o malandro), os banhos de água fria e mais do que tudo dispensava parte da noite de ontem, mas tudo isto acaba por ser importante e por me permitir evoluir enquanto pessoa (ai que isto agora foi tão profundo). Mas foi giro, muito giro. E agora já chega de festa e 'bora lá voltar ao trabalho. (Depois de uma boa noite de sono, claro está!)

Thursday, April 19, 2012

Olimps 2012!

Estava eu a dizer neste post (que podem ir ler porque é de há 5 minutos e de certeza que ainda não leram) que depois das aulas estava a combinar o que tenho de levar amanhã. Sim, chegou finalmente aquela altura fantástica do ano em que os FMéLicos vão em excursão para o Algarve para fazerem em quatro dias aquilo que não fazem durante o resto do ano. São quatro dias de pura borga, com alguma bebida e muita diversão à mistura, e de onde surgem algumas das melhores memórias do nosso curso. Umas mini-férias em que não temos de pensar em medicina nem nada do género, e que temos a oportunidade de conhecer a faceta mais normal de alguns dos nossos colegas, com os quais em situações normais não falamos sobre nada excepto o curso. Em suma: é brutal. Não fui no primeiro ano porque achava que tinha de estudar e arrependi-me imenso. No segundo ano foram fantásticas e tive alguns dos melhores momentos da minha vida. No ano passado houve alguma confusão com o pessoal do meu quarto, mas apesar disso gostei.

Este ano ficámos com um apartamento para dez pessoas e a coisa promete. Depois conto novidades (ou não, para não ferir as mentes mais sensíveis..).
Hoje à tarde estava eu muito bem à porta do hospital, a combinar com algumas pessoas do meu quarto o que tenho de levar amanhã (mais sobre isso num post que vem já, já a seguir), quando chega uma carrinha da EMEL. Isto não é nada de novo, é certo e sabido que quem deixa o carro à portinha do hospital corre o risco de ficar com ele bloqueado. E na verdade não há muita gente a fazê-lo, normalmente só lá estão carros de um ou outro aluno que tem só de dar um saltinho ao hospital e vem já. Os senhores da EMEL pararam a carrinha, eu comentei que alguém ia ter uma surpresa desagradável mesmo antes das Olimpíadas, e continuámos a nossa conversa. Passados cinco minutos, começamos a reparar numa autêntica algazarra: tinha chegado a dona de um dos carros. Devia ter 60 e poucos anos e vinha acompanhada pela filha e genro, que assistiam impávidos e serenos à situação. A senhora berrava, insultava os senhores da EMEL, deu um encontrão a um deles e, quando dou conta... já ela está dentro da carrinha da EMEL a dizer que não sai enquanto não lhe desbloquearem o carro. Pedia que chamassem a polícia e a televisão, porque dali ela não saía. Enquanto um senhor da EMEL telefonava para a polícia (porque afinal de contas aquilo era desrespeito à autoridade! E porque eles tinham de fazer o seu trabalho - que não deve ser o mais agradável do mundo, mas é o que eles têm), o outro resolve entrar na carrinha, avisar que não está para aturar aquilo e que vai seguir com a senhora lá dentro e pronto. Por momentos achei mesmo que ele arrancasse e andasse meia dúzia de metros, mas a ameaça foi suficiente para a senhora abrir a porta, sair da carrinha e.... sentar-se à frente da carrinha agarrada ao pára-choques (a Jo tem uma foto disto. Se ela não estivesse a namorar já ma tinha mandado ou já a tinha posto no blog. Mas claro que ela acha que o namorado é mais importante do que pôr a foto no blog... que estupidez! de qualquer forma quando ela se dignar a isso eu deixo aqui o link). Nesta altura já se tinha juntado uma meia-dúzia de pessoas, que assistiam à cena de longe, e uma senhora que não tinha relação nenhuma com ninguém que estivesse envolvido que falava com os senhores da EMEL na tentativa de que eles desbloqueassem o carro. A senhora permaneceu sentada no chão uns minutos largos, e a filha lá decidiu finalmente conversar com um dos senhores da EMEL e pagar a multa. Desbloquearam o carro, tiraram a fita à volta e a filha entra no carro, chama a mãe e diz-lhe que não são modos de se comportar, a senhora levanta-se, diz meia dúzia de asneirolas para a filha, dirige-se à senhora que tinha estado a tentar que os senhores da EMEL desbloqueassem o carro, aponta-lhe o dedo e diz  "Oh minha velha, tu queres é homens! Estás aqui À volta deles, não é? Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii" e finalmente as palavras que hei-de recordar para sempre: "Hás-de ir para o Inferno e eu vou-te lá encontrar! Hás-de ter a rata a arder!". Virou costas e seguiu a pé,e  embora a filha ainda tenha chamado por ela, alguns segundos depois acabou por arrancar.

E agora eu pergunto: Este é ou não é um dos melhores insultos de sempre?


(E só agora é que eu relacionei o 'ter a rata a arder' com o 'esquentamento' que um doente há tempos me disse que tinha tido, e que eu vim a saber que era sinónimo de gonorreia. Será que a senhora estava a desejar de uma forma mais engraçada que a outra apanhasse gonorreia? Ah pois é!)


Adenda no dia 24/04: Finalmente a Jo já se deu ao trabalho de pôr a fotografia. Podem vê-la aqui.

Wednesday, April 18, 2012

Cá em casa festeja-se sempre com comida não portuguesa. Nepalês, japonês, chinês, italiano, indiano, ... Tudo menos a bela da comida portuguesa. Não se faz um caldinho verde, um arroz de polvo, uma massada de marisco. Não. Encomenda-se sempre comida de uma outra qualquer nacionalidade. Ainda gostava de perceber porquê.


Enquanto percebo e não percebo, vou ali comer uma comidinha japonesa e já volto, sim?

Monday, April 16, 2012

Não sei se algum dia aqui tinha dito que vivo com a minha irmã mais nova. Tem menos dois anos (vinte e dois meses, na realidade) do que eu e, tal como todos os irmãos mais novos, gosta imenso de me chatear (na verdade acho que às vezes nem faz de propósito. Mas chateia na mesma)

No fim-de-semana os meus pais vieram visitar-nos e trouxeram um Pão-de-Ló de Alfeizerão. Claro que hoje quando vinha no metro depois das aulas me lembrei disso e fiquei com vontade de comer uma fatia. Eis que quando chego a casa me deparo com isto:



A senhora minha irmã comeu em 24 horas MEIO Pão-de-Ló e ainda foi roubar a parte líquida da pequena fatia que me deixou! Digam lá que não é de perder a paciência!


(A sorte dela é que eu na maior parte dos dias até gosto dela. Se não fosse minha irmã de certeza que andava uns tempos a comer Pão-de-Ló de palhinha. Principalmente agora, que a Jo me ensinou a dar socos!)

Sunday, April 15, 2012

Histórias do Hospital

Na minha curta passagem pelo serviço de Ginecologia/Obstetrícia tive a oportunidade de assistir à seguinte conversa, a respeito de uma grávida que tinha sido colega de curso das duas pessoas que a assistiram no Serviço de Urgência:

A: Olhei para a C e só pensava "ela está tão velha! Será que eu também pareço assim velha?"
B: Aí, pois está, está magrérrima! E parece que tem mais dez anos do que nós!
A: E continua viciada em trabalho! Viste a reacção dela quando lhe disse que ia ter de ficar internada pelo menos 24 horas?! Disse logo ao marido que tinha de lhe trazer uns artigos para ler, que não conseguia ficar sem fazer nada! E quando eu lhe disse que era suposto ela descansar ainda me disse que era só meia dúzia!
B: É incrível! É que ainda está pior do que o que era na faculdade...


Não pude deixar de me rir e de me sentir um bocadinho mal, porque não consigo condenar a senhora por resolver ler artigos quando está internada. E até me perguntei por breves momentos se eu não virei a ser aquela gravida daqui a uns anos.

(Magrérrima e a parecer dez anos mais velha? Não de certeza.)

Wednesday, April 11, 2012

Nunca consegui ganhar o hábito de me sentar a tomar o pequeno-almoço antes de sair de casa quando tenho alguma coisa para fazer de manhã. Numa grande parte dos dias pego em qualquer coisa antes de sair de casa e como durante a viagem de metro. Há uns tempos estava eu descansadinha a comer a minha maçã quando a senhora sentada ao meu lado, que já estava a olhar para mim há quase duas estações, me diz:
- Oh filha, desculpe estar-me a meter, mas não devia comer no metro! Isto está cheio de micróbios, ainda vai ficar doente!

Se fosse hoje respondia: Oh minha senhora, eu tenho todos os doentes infectados do serviço a tossir para cima de mim, não se preocupe com isso.

Tuesday, April 10, 2012

Na semana passada o meu pai ofereceu-me um iPad. Passei para aqui (sim, que isto está a ser escrito no iPad) livros, artigos e uma panóplia de aplicações que facilitam a minha vida enquanto estudante de Medicina (posso pesquisar um fármacos sem ter de abrir o prontuário?! Yuppi!). A utilização do iPad estava a ser realmente produtiva. Até na segunda-feira ter chegado à faculdade e a Jo me ter feito procurar jogos. Agora é meia-noite e um quarto e estou na cama jogar só mais um jogo de uma cabra que salta em troncos e vai contra águias. Obrigadinha, sim?!
O doente deu entrada no serviço de urgência. A história era a típica, e ao exame objectivo não tive dúvida nenhuma. Era um tumor já muito avançado. Pedi à minha tutora para fazer o exame objectivo, na esperança de que eu estivesse errada. Não estava.  Não era o primeiro tumor que eu palpava. Não era o primeiro doente com um prognóstico não muito bom que eu via. No entanto, lembro-me perfeitamente do doente. Fui a primeira pessoa a perceber o que se passava, e isso marcou-me.  Encontrei-o umas semanas mais tarde, numa consulta com a mesma médica. Vinha mostrar os exames, já depois de ter começado o tratamento. Os exames não mostravam nada de bom. Nesse dia cheguei a casa com uma nuvem de tristeza à minha volta. Ainda foi na altura em que tinha alguém a quem contar o meu dia, e fi-lo. Obtive como resposta um É por isso que eu sei que vais ser boa médica, porque te preocupas realmente com os doentes, e ficas realmente triste com um mau prognóstico. Na altura não tive cabeça para pensar sequer no que me tinha sido dito, e embora não me recorde exactamente da conversa que se seguiu, sei que não contestei a resposta que me tinha sido dada. Até hoje.

A doente deu entrada no serviço de urgência. A história era atípica, e quem estava por lá não teve muita facilidade em fazer o diagnóstico. A doente foi internada e eu vi-a dois ou três dias depois. A doente estava irresponsiva. Pedi à minha tutora para trocar de doente, para ficar com um doente que falasse ,para poder escrever uma história. Não autorizou. Passei grande parte da manhã a fazer exame objectivo. Quando acabei falei com a interna, que me deixou consultar o processo. Segui a doente de todas as vezes que estive no serviço, até ao início das férias da Páscoa. Os problemas iam-se acumulando, e fui-me embora com a certeza de que quando voltasse a cama já estaria ocupada por um outro doente qualquer. Hoje entrei no serviço a comentar com um colega que queria ver se era desta que escrevia uma história completa. Percorria o corredor em direcção ao quadro do serviço, e instintivamente olhei para a cama que tinha deixado quase duas semanas antes. -Bom dia, Dona A!     -Bom dia, senhora doutora!  Hoje entrei em casa com um sorriso na face. Não tenho ninguém a quem contar o meu dia, e por isso escrevo sobre ele num blog que não é lido por praticamente ninguém. Mas se tivesse alguém a quem contar o meu dia, e esse alguém me dissesse que achava que eu vou ser boa médica porque fico genuinamente feliz quando um doente fica bem, não iria contestar. Porque finalmente percebi o que há em comum entre todos os médicos que eu admiro (para além das capacidades técnicas, claro está). Não é a capacidade de ficar em baixo com um diagnóstico ou um prognóstico menos bom. É a felicidade genuína que sentem quando um doente com um prognóstico menos bom recupera, e o facto de isso ser o suficiente para compensar qualquer tristeza sentida antes. 

Sunday, April 8, 2012

Gosto de rotina, de tradições. A minha mãe a gritar da cozinha a eterna pergunta retórica, que já a avó da minha mãe gritava da cozinha dela, "Queres-me vir ajudar?". E vou. Preparamos juntas o coelho à caçador com a mesma receita de há cinquenta ou sessenta anos, os mesmos ingredientes, os mesmos passos pela mesma ordem, "e agora?". Quando nos sentamos à mesa regresso aos meus tempos de criança, sentada numa cadeira muito maior do que eu, o meu avô à cabeceira da mesa, a avó da minha mãe sentada à sua direita, a sorrir, "Bom apetite!". Os cheiros são os mesmos, os sabores são os mesmos. Tradição. Gosto da certeza de que há coisas que vencem o Tempo. De que um dia vou ser eu a gritar da minha cozinha a mesma pergunta retórica, "Queres-me vir ajudar?".

Friday, April 6, 2012

A tarde é de preguiça, passada no sofá com uma manta sobre as pernas. As torradas com doce de frutos vermelhos vêm substituir o iogurte com aveia e frutas ao lanche, agora que o frio voltou. O café é o de sempre, e aquece a alma, enquanto se planeiam e sonham os dias que estão para vir.

Thursday, April 5, 2012

Vir à terrinha é sempre sinónimo de cafés para matar saudades e conversas sobre o futuro.

- Não tinha noção que já estás com a Maria há tanto tempo... E já acabam o curso para o ano... Já disse à Daniela, marquem os casamentos lá para 2015, que nós em 2014 não vamos ter tempo para isso, e eu quero estar lá!
- Casamento? Mas quem é que falou em casamento? Eu não me quero casar, isso só traz confusões... E sinceramente não achei que tu fosses de casamentos! Tencionas casar, tu?!
- Sei lá, tenciono ter alguém ao meu lado, e ter filhos, ter uma família. Casar ou não é secundário...
- Sim, ter família eu sei que vais ter. Aliás, despacha-te a arranjar alguém, porque eu fiz uma aposta em como tu ias ser a primeira a ser feliz para sempre.


E às vezes também serve para me relembrar que tenho amigos que têm a certeza de que eu também vou ser feliz para sempre, e que quem sabe eles estejam certos.

Tuesday, April 3, 2012

A vida do meu irmão está num ponto de viragem. Depois de dois anos a viver longe da namorada, surgiu a oportunidade de se mudarem. Candidataram-se a vários programas de doutoramento, uns cá, outros fora, e as respostas vão chegando aos poucos. Embora tenham concorrido às mesmas universidades, têm sido poucas aquelas em que têm conseguido receber duas respostas positivas, e quando as recebem é geralmente em universidades de segunda escolha.
Não consigo imaginar o que é ter de optar entre uma oportunidade menos boa com alguém ao nosso lado ou a oportunidade dos nossos sonhos sem ninguém. E quanto mais penso nisso, mais me vem à cabeça que daqui a dois anos tenho uma decisão importante para tomar, e daqui a três a decisão que vai condicionar toda a minha vida. E assim de repente quase que agradeço por estar sozinha e não ter de pensar nessas coisas.

Monday, April 2, 2012

Odeio conduzir. Sei que não conduzo bem, tenho algum medo e tenho sempre pouca vontade/ preguiça de pegar no carro. Mas gosto da independência que o carro me dá. Gosto de poder sair às horas que quero, ir a qualquer sítio sem ter de dar satisfações a ninguém. Gosto de mudar de planos à última hora e ir só ali tomar um café antes de ir para a biblioteca. Por isso hoje meti-me no carro só para me recordar do que é conduzir (já lá iam uns mesinhos, porque o meu irmão deixou o meu carro em Lisboa da última vez que cá esteve.). Andei aqui pelo meio do mato, fui dar um beijinho à minha avó e voltei para casa. Alguém se devia orgulhar de mim, que peguei no carro sem razão nenhum.