Saturday, October 25, 2014

Faz hoje meio ano. Os minutos parecem passar lentamente, mas os meses acumulam-se mais rápido do que eu esperava. Aconteceu tanta coisa desde então... Perdi a conta ao número de vezes que chorei de saudades. Perdi a conta ao número de vezes que me disseram que ele estaria orgulhoso de mim, e ao número de vezes que desejei não ter feito até ao fim o banco da véspera do dia 25 de Abril.  Lembro-me muitas vezes dele. Do meu avô. A sorrir do seu lugar da mesa, a chamar pela minha avó: "Oh Lola!", a perguntar "E lá por Lisboa! Anda tudo bem?" e "Aquela filha do meu amigo, tua colega, anda bem?". Penso muitas vezes nele, e no quanto me ensinou, mesmo até ao fim. É por ele que penso duas vezes antes de dizer algo a alguém que vou estar algum tempo sem ver. É por ele que sorrio a cada velhote com quem me cruzo no Hospital, no metro e no café. E de cada vez que o faço penso nele e tenho saudades. Muitas saudades. Porque ele é que era para mim a definição de avô.

E espero, do fundo do coração, que antes de ir ele soubesse que era amado. Espero tê-lo dito vezes suficientes enquanto pude, e que antes de morrer me tenha perdoado o facto de não estar lá. Saudade.

Sunday, October 19, 2014

Nunca lidei muito bem com o facto de a vida ser injusta. Cresci a ouvir dizer que o trabalho compensava, que a vida era daqueles que se esforçavam e faziam o melhor que podiam pelos seus objectivos. Aqui estou eu, 24 anos, médica, sentada no chão da minha sala a chorar como uma criança a quem foi tirado um chupa-chupa ainda antes de ele me ser tirado. Falta um mês. A contagem decrescente começa amanhã, e eu não consigo mais. Não sei fazer melhor do que o que tenho feito, e claramente o que tenho feito não chega. Tento relativizar. Tento ficar feliz por quem está melhor do que eu. Mas não consigo. Na verdade só me apetece mandar toda a gente à merda, e gritar bem alto que era suposto o trabalho compensar, que era suposto as coisas correrem-me bem a mim, que estou a trabalhar há um ano, que tenho um objectivo traçado, que sei o que quero. Que me enganaram. É isso que sinto, que fui enganada. Que abdiquei de um ano da minha vida por uma promessa vã. Que me tornei uma pior pessoa por nada. Porque sim, tornei-me uma pior pessoa. E não posso fazer nada. Tenho de continuar a levantar-me cedo, estudar todo o dia e esperar que a noite chegue para poder ir dormir e esperar pelo dia seguinte, que há-de ser igual. Sabendo que não vai dar certo. Que não vai ser suficiente. E que vou ter de decidir o que fazer quanto a isso.

Wednesday, October 15, 2014

Dias maus.

Os dias dividem-se em dois tipos: os dias maus e os dias péssimos. Já não custa estudar. Já não custa passar o dia sentada numa biblioteca com um livro à frente, já é o normal. Deixei de me questionar 'o que vou fazer hoje?' há muito tempo, e quando acordo sei que o dia vai ser passado a estudar, a ler, a tentar decorar mais aquele pormenor. Já estou resignada, e na maior parte dos dias sinto-me farta, mas não passa disso. Mas há dias péssimos. Dias em que nada parece correr bem, a página que não vira, as frases que são lidas vezes e vezes sem conta e continuam com um significado misterioso qualquer, as perguntas que têm 5 alíneas que parece que nunca vimos à frente e que afinal temos sublinhadas com marcador, caneta e com um ponto de exclamação ao lado. Há dias em que a nota alvo parece ainda mais longe do que o que estava há um ano atrás. Há dias em que o meu cérebro não consegue pensar em mais nada a não ser 'tu não vais conseguir. tu não vais conseguir e não vais querer passar por isto tudo outra vez e vais acabar a fazer algo de que não gostas PARA O RESTO DA TUA VIDA'. Há dias mesmo maus, e hoje foi um deles. E a minha vontade neste momento é enfiar-me na cama e chorar até o dia 20 de Novembro passar.