Tuesday, February 10, 2015

Estamos no meio da confusão de um bar escolhido ao acaso num sábado à noite. Chegaste com os teus quinze minutos de atraso como habitual, depois de teres bebido demasiadas cervejas. Deste-me um beijo na testa, cumprimentaste os amigos do costume e retomámos a conversa banal que estávamos a ter. Algures pelo meio a conversa dividiu-se e ficámos só os dois a falar. 'Não consigo dormir...'. A outra metade do grupo ri-se de uma qualquer piada e eu fico só a olhar para ti. 'Já não sei ter a cama só para mim.'. Alguém pergunta se queremos beber mais alguma coisa, tu pedes um fino e eu um Sheridans, o segundo da noite. Penso para comigo que é sábado, não tenho compromissos para o dia seguinte, e mais um não tem mal. Voltamos à conversa do grupo e rimo-nos como se a tivéssemos estado a ouvir. As bebidas chegam e brindamos. A nós, ao passado, ao futuro, brinde atrás de brinde, a desejarmos o melhor uns aos outros, a desejarmos ficar assim juntos para sempre. Saímos do bar e eu não sinto a ponta do nariz. Olhas para mim e repetes 'Não consigo dormir.'. Despedimo-nos todos com beijos e abraços e desejos de um bom regresso a casa. Agarras a minha mão e pedes que vá contigo. Caminhamos em silêncio no frio da noite. Abres a porta de casa, mostras-me o teu quarto e deitamo-nos na cama. Encostas a cabeça no meu peito e choras a solidão de ter tido alguém e estar sozinho. Repetes 'Não consigo dormir..' vezes e vezes sem conta, enquanto te afago a cabeça. Não fazemos sexo. Não fazemos sexo, nem amor. Abraço-te com a força que tenho, olhas para mim e dizes 'Gosto mesmo de ti, sabias?'. Afasto as tuas lágrimas com a palma da minha mão como uma mãe a uma criança indefesa e digo-te que durmas. Embalo-te no meu colo, meu filho, meu irmão mais novo, eu própria a chorar a solidão de não ter alguém ao meu lado. E adormeces. E adormeço ao teu lado. E amanhã de manhã vou acordar demasiado cedo, e quem me vir sair de tua casa com a mesma roupa com que entrei vai achar que faço o caminho da vergonha. E ninguém vai ver nos meus olhos o quanto eu te amo por tudo isto, por precisares de mim quando eu preciso que precises de mim. E ninguém vai ver que sou tua mãe e irmã e amiga, e conselheira e música de embalar. Mas está tudo bem. Porque hoje conseguimos dormir.