Friday, December 19, 2014

Sei que estou numa fase diferente da minha vida quando

alguém me pergunta o que quero para o Natal e eu respondo: "Um balde do lixo, uma chaleira/fervedor de água, ou qualquer outra coisa para a casa".

Thursday, December 18, 2014

Coisas que não consigo descrever

Passar de uma cidade em que estão 35º para uma em que estão 10º.
Passar de conhecer sítios novos, experimentar comida nova e aproveitar o sol para procurar casa e pensar no tamanho da minha ignorância e na influência que isso ai ter a partir de dia 2 de Janeiro.
Passar de controlar um orçamento para 2 semanas de férias para programar os gastos de um mês para conseguir poupar parte do ordenado.
Passar de estar descansadinha da vida para ter preocupações de gente grande.

Parece que faltam 2 semanas para começar a trabalhar. E mudar de cidade (outra vez!). E viver sozinha (outra vez!).

Sunday, November 30, 2014

Bem, parece que amanhã vou partir para o outro lado do mundo. Volto daqui a 2 semanitas. Até lá, em vez de se roerem de inveja, pensem em todas as vezes no último ano em que fizeram alguma coisa de que gostavam enquanto eu estava fechada numa biblioteca... E depois roam-se de inveja na mesma! :)

Saturday, November 22, 2014

FÉRIAS!!!

Está feito! Não foi brilhante mas não foi mau, e quase de certeza que me dá acesso à especialidade dos meus sonhos. Os últimos 2 dias foram absolutamente estranhos e indescritíveis: passar de estudar 14 horas por dia para 0, de ter o dia todo ocupado para não ter nada que fazer é toda uma nova sensação. Para já vim a casa dizer aos meus pais que ainda estou viva e visitar a minha avó. Passei muito tempo ao telefone a pôr conversas em dia, e tenho muitos cafés e planos sociais programados para tentar compensar o tempo que estive enclausurada. Ah, e tenho de decidir para onde vou no próximo ano, mas isso é só um pequeno pormenor.

Para já, vai mais um episódio de uma série, que é uma e meia da manhã mas amanhã não tenho de estar a pé antes da hora do almoço!

Sunday, November 16, 2014


Hoje foi o último dia em que estudei no sítio onde estive nos últimos 6 anos, já que nos próximos dias vou restringir a quantidade de "harrisonianos" com quem estou para minimizar o stress. Faltam 4 dias para o exame e apesar de tudo estou a conseguir manter-me calma durante a maior parte do tempo. Vamos ver como correm os próximos dias. Para já de uma coisa estou certa: estou a dar o meu melhor. Vamos ver se chega.

Saturday, October 25, 2014

Faz hoje meio ano. Os minutos parecem passar lentamente, mas os meses acumulam-se mais rápido do que eu esperava. Aconteceu tanta coisa desde então... Perdi a conta ao número de vezes que chorei de saudades. Perdi a conta ao número de vezes que me disseram que ele estaria orgulhoso de mim, e ao número de vezes que desejei não ter feito até ao fim o banco da véspera do dia 25 de Abril.  Lembro-me muitas vezes dele. Do meu avô. A sorrir do seu lugar da mesa, a chamar pela minha avó: "Oh Lola!", a perguntar "E lá por Lisboa! Anda tudo bem?" e "Aquela filha do meu amigo, tua colega, anda bem?". Penso muitas vezes nele, e no quanto me ensinou, mesmo até ao fim. É por ele que penso duas vezes antes de dizer algo a alguém que vou estar algum tempo sem ver. É por ele que sorrio a cada velhote com quem me cruzo no Hospital, no metro e no café. E de cada vez que o faço penso nele e tenho saudades. Muitas saudades. Porque ele é que era para mim a definição de avô.

E espero, do fundo do coração, que antes de ir ele soubesse que era amado. Espero tê-lo dito vezes suficientes enquanto pude, e que antes de morrer me tenha perdoado o facto de não estar lá. Saudade.

Sunday, October 19, 2014

Nunca lidei muito bem com o facto de a vida ser injusta. Cresci a ouvir dizer que o trabalho compensava, que a vida era daqueles que se esforçavam e faziam o melhor que podiam pelos seus objectivos. Aqui estou eu, 24 anos, médica, sentada no chão da minha sala a chorar como uma criança a quem foi tirado um chupa-chupa ainda antes de ele me ser tirado. Falta um mês. A contagem decrescente começa amanhã, e eu não consigo mais. Não sei fazer melhor do que o que tenho feito, e claramente o que tenho feito não chega. Tento relativizar. Tento ficar feliz por quem está melhor do que eu. Mas não consigo. Na verdade só me apetece mandar toda a gente à merda, e gritar bem alto que era suposto o trabalho compensar, que era suposto as coisas correrem-me bem a mim, que estou a trabalhar há um ano, que tenho um objectivo traçado, que sei o que quero. Que me enganaram. É isso que sinto, que fui enganada. Que abdiquei de um ano da minha vida por uma promessa vã. Que me tornei uma pior pessoa por nada. Porque sim, tornei-me uma pior pessoa. E não posso fazer nada. Tenho de continuar a levantar-me cedo, estudar todo o dia e esperar que a noite chegue para poder ir dormir e esperar pelo dia seguinte, que há-de ser igual. Sabendo que não vai dar certo. Que não vai ser suficiente. E que vou ter de decidir o que fazer quanto a isso.

Wednesday, October 15, 2014

Dias maus.

Os dias dividem-se em dois tipos: os dias maus e os dias péssimos. Já não custa estudar. Já não custa passar o dia sentada numa biblioteca com um livro à frente, já é o normal. Deixei de me questionar 'o que vou fazer hoje?' há muito tempo, e quando acordo sei que o dia vai ser passado a estudar, a ler, a tentar decorar mais aquele pormenor. Já estou resignada, e na maior parte dos dias sinto-me farta, mas não passa disso. Mas há dias péssimos. Dias em que nada parece correr bem, a página que não vira, as frases que são lidas vezes e vezes sem conta e continuam com um significado misterioso qualquer, as perguntas que têm 5 alíneas que parece que nunca vimos à frente e que afinal temos sublinhadas com marcador, caneta e com um ponto de exclamação ao lado. Há dias em que a nota alvo parece ainda mais longe do que o que estava há um ano atrás. Há dias em que o meu cérebro não consegue pensar em mais nada a não ser 'tu não vais conseguir. tu não vais conseguir e não vais querer passar por isto tudo outra vez e vais acabar a fazer algo de que não gostas PARA O RESTO DA TUA VIDA'. Há dias mesmo maus, e hoje foi um deles. E a minha vontade neste momento é enfiar-me na cama e chorar até o dia 20 de Novembro passar.

Sunday, September 28, 2014

Há que ser coerente.

Não acredito no destino, nos astros, nos signos, nos desígnios, numa entidade superior ou em qualquer outra coisa que não a capacidade que temos de decidir fazer isto ou aquilo, optar por A em vez de B. Mas adoro a balada astral do Miguel Araújo com a Inês Viterbo. Não acredito no amor para sempre, na expressão "o meu mais-que-tudo", "cara-metade" e tantas outras. Mas quero para mim o que os meus avós tiveram. Não acredito em amor à primeira vista, blind dates e outros que tal. Mas inscrevi-me no tinder.

A questão é: não sou coerente. Sei aquilo em que acredito, sei os valores que tenho, e sei que nem sempre ajo de acordo com eles. Quero ser cirurgiã (e trabalhar todos os dias a maior parte dos dias), mas quero ter 4 filhos e passar tempo de qualidade com eles. Não sou coerente. Tenho 24 anos e às vezes ainda me comporto como uma adolescente de 15. E ainda dizem que sou demasiado crescida para a idade que tenho...
Se estiverem interessados em alguém que está a estudar para o Harrison aproveitem, que é para a vida. Nunca vão ver essa pessoa tão mal como ela está agora: nem com tão pouco tempo livre, nem com tão pouca paciência, nem com as sobrancelhas por arranjar durante tantos meses, a maquilhagem por usar, nem a comer tanta porcaria como a que come agora.

Por outro lado, se estão a estudar para o Harrison talvez não seja a melhor altura para se interessarem por alguém: essa pessoa não sabe que vocês não têm sempre tão pouco tempo livre, tão pouca paciência, tanto pêlo e tão pouco brio.

Pronto, era isso. Agora vou ali tomar um duche, que felizmente isso ainda faço diariamente.


Monday, September 22, 2014

Nos dias como o de hoje ainda tenho saudades dele.

Saturday, September 20, 2014

Faltam 2 meses.

O estudo intensivo tem-me ensinado muito para além do que vem no livro. Aprendi que as pessoas mudam e crescem (às vezes em sentidos opostos), e que isso é normal, porque hão-de aparecer outras pessoas a mudar e a crescer no mesmo sentido que nós. Aprendi a gerir prioridades e a não me deixar sufocar (ainda estou a aprender isto, na verdade). Aprendi que todos temos um bocadinho de loucura dentro de nós, à espera do momento ideal para se revelar. Aprendi a escolher o melhor lugar da biblioteca (não, não vos digo os meus critérios!). Aprendi que às vezes compensa dormir menos 20 minutos para ter tempo para tomar o pequeno-almoço na esplanada e começar o dia com gargalhadas embora o dia nos reserve 10 horas de desespero. Aprendi a ser flexível com os meus planos, a ser flexível com o meu lugar, a ser flexível com o meu material de estudo... Na verdade isso não aprendi, mas aprendi que devia aprender isso (conta, certo?). Aprendi a importância de partilhar os meus medos com alguém, mesmo aqueles que eu não sabia que tinha. Aprendi a prepara refeições para uma semana inteira! Aprendi que existe um mercado negro de marcadores stabilo boss.  Aprendi a fazer mais gestos bonitos pelas outras pessoas. E estou a tentar aprender a ser um bocadinho feliz todos os dias.

Como podem ver estou a aprender muita coisa que não vem para o exame. Vamos esperar que tambem esteja a aprender alguma coisa que venha. 

Tuesday, September 9, 2014

Tiro 3 dias de férias, que se somam aos 4 dias tirados no início de Julho e que perfaz um total de 7 dias desde o início de Janeiro. Abro as bibliotecas todas as manhãs, fecho-as em alguns dias, noutros estou em casa à hora do jantar para dar uso à secretária que tenho no quarto. Já lá vão 2 meses e meio de estudo intensivo, 10 meses se contarmos o tempo em que o dia foi dividido entre estudo e estágio. Ando de mochila às costas, o conhecimento a pesar figurativa e literalmente, as costas curvas para suportar o peso dos livros. Revejo tabelas no metro, post its com as manifestações, as alterações genéticas e o prognóstico de doenças que nunca vi, e das quais nunca tinha ouvido falar até este livro surgir à minha frente. Pelo meio mantenho a família, que liga de vez em quando para saber se está tudo bem, o meu pai a perguntar 'então, já sabes tudo?' uma e outra vez e eu sem coragem para dizer que tudo nunca se sabe. Caminho com outros tantos ao meu lado, todos no mesmo barco, todos agarrados ao bote salva-vidas que nos mantém à superfície e não nos deixa afogar no meio das lágrimas que correm com a terapêutica do mieloma múltiplo. Preocupo-me por 1 milésimo de segundo com o futuro mas rio assim que a senhora do banco me fala nas vantagens que virei a ter quando receber 3000 euros de ordenado (mas ela sabe que eu vou só ser médica?); lá lhe peço que me fale nas vantagens para quem recebe os 1200, porque é isso que me interessa, que é isso que hei-de receber durante muito, muito, muito tempo. Trato de papelada e desembolso 210 euros para me inscrever na Ordem, 'só começa a pagar quotas no próximo ano!' - obrigadinha pelo favor! Abro uma notícia qualquer com médicos no título e somos todos iguais, uns sacanas, uns gatunos que recebem 8000 euros por mês e juntam o privado e o público e não põem os pés no hospital e não querem saber dos doentes para nada. Rio-me com o rótulo que me foi posto ainda sem ter começado sequer a trabalhar, viro a página e tento a todo o custo decorar a lista de supermercado de causas de hiponatrémia, como é possível saber isto quando há 6 anos essa palavra nem existia no meu dicionário? Respiro fundo e digo a mim mesma que um dia esta informação pode ser útil (ou não.). Que esta foi a minha opção, e que não importa a quantidade de insultos, onde me sinto mesmo feliz é dentro de um bloco operatório, com as mãos na massa a arranjar uma solução para os problemas, mesmo que para isso tenha de estudar a maior parte do dia para um dia poder trabalhar a maior parte do tempo e receber 1200 euros que aos olhos dos outros são 8000. Respiro fundo e só peço que o trabalho compense. Porque estou cansada e já não tenho a certeza de ter forças de fazer isto tudo de novo no próximo ano, e talvez até nem fosse infeliz a trabalhar das 9 às 5 num sítio qualquer que não me fizesse o cabelo cair com o stress.

Sunday, August 24, 2014

Dos tempos difíceis

Este ano tem sido difícil. Difícil ao ponto de não conseguir descrever quão difícil está a ser. Estão a ver aquela altura do semestre em que têm demasiadas horas de aulas obrigatórias por dia e têm de estudar para um teste/frequência/o que quer que lhe chamem? Imaginem isso durante cerca de 8 meses, seguido de 5 meses de estudo 'tipo época de exames'. Juntem a isso o stress de estar toda a gente stressada à vossa volta (incluindo vocês mesmos), o facto de serem dependentes de bibliotecas e estas estarem a fechar uma por uma, e a vossa família e amigos não-de-medicina achar que estão a exagerar no estudo/na dificuldade do exame/ nas horas que dizem passar a estudar. É demasiado. Houve alturas em que julguei que estava a perder o juízo. Já chorei de desespero no meio da biblioteca (maldita terapêutica do mieloma múltiplo!). Já telefonei à minha mãe duas vezes seguidas para lhe dizer o mesmo por não me lembrar que já lhe tinha ligado, já deixei um café ficar frio porque não me lembrei de o tomar, e já me esqueci se tinha tomado café ou não. Estou cansada, ando cansada e a coisa não está para melhorar. Mas já faltam menos de 3 meses. E as pessoas têm ajudado, algumas pelo menos. Nos intervalos do estudo arranjam-se umas noites para beber umas somerbys e discutir o sexo dos anjos, uma horinha ou outra para dar um saltinho à praia, e fortalecem-se amizades, porque é nas alturas de desespero que isso geralmente acontece. E planeia-se a viagem final do curso, acrescentam-se items à to-do list do próximo ano (que creio já ter mais fins-de-semana ocupados do que aqueles que um ano tem), e tenta-se ignorar o facto de mais cedo ou mais tarde ter de se começar a pensar no hospital onde se vai entrar como médico pela primeira vez (faz de conta que ainda há muito tempo...). 

E no meio disto tudo o exame está quase aí (já faltam menos de 3 meses!)

Sunday, April 27, 2014

O meu avô ensinou-me a fazer palavras cruzadas.

Tinha sempre revistas pequeninas em casa, com caras de pessoas famosas que não conhecíamos, nas quais desenhávamos bigodes e dentes pretos e chapéus. Ao sábado trazia sempre uma raspadinha para cada um - mais, se na semana anterior tivesse havido prémio. Quando percebeu que gostávamos de biscoito da teixeira, começou a trazer sempre que lá íamos. E quando percebeu que eu gostava de S. Marcos, começou a trazer também. O meu avô bebia sempre refresco de café no verão, primeiro com água das pedras, depois só com gelo, quando o médico proibiu a água com gás. Fazia brinquedos com rolhas de garrafa de vinho e cordéis para nós brincarmos com os gatos que por lá andavam. E dizia "o último a acabar a sopa é uma carroça velha!", e às vezes deixava-nos ganhar. O meu avô era sportinguista ferrenho, mas telefonava sempre que o Porto ganhava o que quer que fosse, só para dar os parabéns. Já há uns anos que o meu avô dependia de uma cadeira de rodas, mas manteve sempre o sentido de humor e mandava piadas - às vezes um bocadinho inoportunas (mais uma coisa que herdei?). Era teimoso - é de família!- mas não gostava da teimosia dos outros. De uma das últimas vezes que estive com ele, enquanto lhe dava o lanche, eu disse "Oh avô, come lá mais um bocadinho!", ao que me respondeu: "Não me chames avô!, se estás a teimar não me chames avô!".

O meu avô morreu há dois dias, mas os dias foram tão longos que pareceram semanas. E tenho saudades. O mau de não se acreditar em nada é que não acredito que esteja a jogar cartas na companhia dos amigos, enquanto espera por umas pataniscas de bacalhau a meio da tarde. Mas não preciso de acreditar em nada para saber que não vai ser esquecido - criou uma família grande que o vai recordar durante muitos, muitos anos.

Monday, April 21, 2014

Dizem-me que procuro alguém que não existe.

Existir existe, e é o homem da minha vida. Eu é que não sou a mulher da vida dele.

Tuesday, March 18, 2014

O meu gosto por determinado estágio é inversamente proporcional ao tempo que passa entre o despertador tocar e eu me levantar da cama.


Hoje passou tanto tempo que ia adormecendo.

Saturday, February 15, 2014

Ontem apareceu um documento onde é proposto acabar com a prova nacional de seriação de 2014 (o famoso exame de acesso à especialidade aka "O Harrison") e juntar o actual 6º ano e o actual 5º ano numa prova nacional de selecção em 2015.

No dia dos namorados fui informada de que a minha relação com o Harrison - a mais estável e promissora (porque ia durar pelo menos até Novembro deste ano) dos últimos tempos - pode estar condenada. Até essa...

Friday, February 14, 2014

Dia dos Namorados.

A vantagem de dividir os meus dias entre o hospital, a biblioteca municipal e o conforto do meu lar é que não tenho de levar com tudo cheio de corações.

(E passou mais um dia dos namorados sem eu dizer que isto é tudo uma palhaçada.)