Tuesday, October 30, 2012

Balada da Despedida






Fitas doiradas, por-do-sol raiadas a riscar o mar.
Meros testemunhos, folhas de rascunhos do curso a acabar.
Canções de amizade, refrões de saudade de quem vai partir.
Adeus Faculdade, adeus terna idade, lembrança a sorrir.

Dentro de um estudante o eterno amante de capa luar.
Existe a vontade de que a faculdade o deixe ficar.
Mas tal como o dia, a noite fugidia irá destronar.
Também negras capas transformam-se em batas para não mais voltar.

O tempo não cede ao clamor que lhe pede para voltar atrás.
Das fitas apenas memórias serenas de um sonho fugaz.
A página vira e a alma respira por mais um momento.
Seis anos de amor, paixão e fulgor, levou-os o vento.





No ano passado foi assim. A cada ano que passa a Balada da Despedida está mais próxima de ser a minha, a cada ano que passa a Balada da Despedida dá-me um aperto maiorzinho no peito. Amanhã é a última Noite da Medicina antes da minha. Parece que foi ontem que entrei pela primeira vez no Coliseu dos Recreios, caloirinha, com tanto para aprender. Gosto desta tradição. Gosto do facto de termos sentido de humor suficiente para organizarmos uma coisa destas, e gosto do facto de sermos sentimentalistas o suficiente para ficar com a lágrima no canto do olho com a Balada da Despedida e o Fado do Estudante. 







Monday, October 29, 2012

Os heróis que colocaste em pedestais caem aos trambolhões e rebolam agora na sarjeta. Subitamente não há pessoas perfeitas. Ali estão eles, caídos no chão, entre lágrimas e lama, as imperfeições à vista de quem quiser olhar. Apercebem-se também que não são perfeitos. Não o souberam antes, percebem-no agora, rebolando no chão e conspurcando tudo à sua volta. E a ti. Lágrimas e lama. A incerteza do amor incondicional abala os pilares pelos quais te reges e dá-te naúseas. O dever de amar e a incapacidade de compreender fervem dentro de ti e fazem com que, também tu, contribuas para a acumulação de lágrimas. E a vontade é a de gritar. Gritar aos teus heróis que agora rebolam na lama que são uma farsa. Que são tão ou mais imperfeitos do que tu. Mas não suportas ver-lhes as lágrimas a correr pela face ruborizada, ao perceberem que não são perfeitos. E só queres que isto acabe. As lágrimas. A lama.

Sunday, October 28, 2012

'Já não gosto mais de ti.'

Mandou-me esta mensagem via messenger, quase duas semanas depois de me ter enchido a janela de corações e lábios que emitiam o som de beijinhos repenicados e de me dizer que se um dia se afogasse gostava de ser salvo por mim. Depois, do nada, 'Já não gosto mais de ti.'. Eu tinha 13 ou 14 anos e chorei. Chorei na realidade e mostrei-lho virtualmente. 'Dois pontos apóstrofo abrir parêntesis', em resposta ao seu 'Já não gosto mais de ti.'. Quis uma explicação mas ele não tinha nada a dizer, excepto 'Já não gosto mais de ti.'. Nessa noite não dormi. Ele fazia anos dali a uns dias e eu tinha gasto as minhas poupanças num perfume para lhe oferecer, o Calvin Klein da embalagem de plástico branca e laranja, que estava agora debaixo da minha cama sem destino definido depois daquele 'Já não gosto mais de ti.'.

Em Março deste ano estive na mesma situação, uma prenda numa mão e um 'Já não gosto mais de ti.' implícito na outra. Tenho mais oito anos em cima e a reacção ao 'Já não gosto mais de ti.' foi a mesma.

Hoje, passados mais sete meses, faço a mim mesma uma promessa. A de nunca dizer 'Já não gosto mais de ti.'. Porque mesmo que seja verdade é uma verdade que dói. E ninguém merece.

Monday, October 22, 2012



and I am not sure which one will win today.

Thursday, October 18, 2012

Felicidade é uma escapadela em Londres, com um dia naquilo que mais gosto e uma manhã e uma tarde de latte na mão a matar saudades da cidade que não conheço tão bem como gostaria.

Saturday, October 13, 2012

Ontem à noite recebi uma mensagem da minha 'caloirinha' (que já não é caloirinha nenhuma) a dizer que tinha dado 3 pontinhos na cabeça de um senhor.

Coisas que me passaram pela cabeça:
1- Agora que começou a deixar marcas nas pessoas nunca mais vai querer parar
2- Ensinei-a bem: urgências para suturar fazem-se à sexta ou sábado à noite
3- A MINHA CALOIRINHA JÁ SUTURA?! Estou a ficar velha...

Wednesday, October 10, 2012

Há tempos uma pessoa que me é próxima perdeu uma amiga. Era uma pessoa jovem, pouco mais velha do que eu, saudável. Nada fazia prever o que aconteceu, mas a verdade é que um dia ela estava cá e no dia seguinte não estava. Não houve oportunidades para despedidas. Ficou o arrependimento de não ter dito mais vezes 'gosto de ti'.

Tenho passado a última semana a saltitar de hospital em hospital, entre aqueles que frequento como aluna e aqueles que frequento como visita. Um amigo daqueles que vi crescer ao meu lado está internado e, embora não seja nada que não tenha solução, todos os dias me tem custado deixá-lo sozinho à noite. Tenho dito 'gosto de ti' mais vezes. Caraças, tenho dito 'gosto de ti' todos os dias. Porque eu sei que não vai acontecer nada, mas se por acaso acontecesse eu ia saber que ele sabia. E não ia ter de viver com o peso de um 'gosto de ti' que não foi dito.

(E ao que parece eles pesam comó-raio...)

Monday, October 1, 2012

Ei-lo. O último ano de aulas. O tão falado e tão temido quinto ano. Não sei o que aconteceu, mas o tempo passou a correr.

Estamos a ter aulas no mesmo anfiteatro onde estávamos no primeiro e segundo ano. Estamos rodeados de pessoas que não nos são minimamente familiares (o que me relembra que no ano passado não fui à praxe uma única vez), pessoas que olham para nós como se fossemos grandes. Não me sinto grande. Na minha agenda tenho escritas coisas como 'urgência de pediatria', 'partograma', 'marcar banco de ortopedia', 'saber informações da urgência de cirurgia', coisas de adultos, que eu sei que vou adorar (porque adorei no ano passado, porque adoroo que estou a fazer), mas que ainda me dão taquicardia. Tal como o nome 'daquele' Professor, de casa vez que me ocorre que a probabilidade de ter se fazer oral é gigantesca.

E eu quero não pensar nisso tudo, juro que quero. Mas não sei se é do início do ano, se é de ser o último ano com aulas, se é por outra razão qualquer, mas a verdade é que não se ouve falar de outra coisa.


(E agora deixo aqui a minha felicidade por ter conseguido que me imprimissem as desgravadas mesmo como eu queria: em A5 para poder andar com elas para todo o lado. E ainda dizem que eu sou difícil de contentar.)