Wednesday, April 24, 2013

'De noite tudo são sombras.
E eu por elas hei-de andar.'

Monday, April 22, 2013

Há tempos um amigo meu disse-me que ouviu uma colega minha com quem eu estava a fazer um trabalho de grupo a dizer que eu era muito exigente, talvez exigente de mais para aquilo que o trabalho valia. Não vou mentir, sou exigente. Mas não sou mais exigente com os outros do que o que sou comigo mesma. Sempre fui assim. No ciclo toda a gente queria trabalhar comigo para ter boa nota, até perceberem que comigo tinham de trabalhar e que eu não fazia o trabalho por ninguém. No secundário a minha turma era melhorzinha, os grupos de matemática eram feitos pela professora pelas notas do teste anterior, e para os outros grupos juntávamo-nos sempre meia-dúzia com mais ou menos os mesmo objectivos, pelo que as coisas corriam bem. A única excepção foi um trabalho facultativo de biologia, em que o professor fez os grupos. Um dos elementos do meu grupo não apareceu em reunião nenhuma, o que fez com que decidíssemos não pôr o nome dele no trabalho. Não foi sugestão minha, mas eu concordei. Toda a turma ficou chocada, mas eu continuo a achar que foi a decisão correcta: o trabalho era facultativo, tínhamos todos 17 anos e só andava ali quem queria. Ele não foi prejudicado, só não foi beneficiado. Desde essa altura que não gosto de trabalhos de grupo.
A faculdade veio aumentar esse sentimento. Já apanhei de tudo: pessoas que não sabem nem querem saber, pessoas que até querem saber mas não sabem nada, pessoas que sabem e querem saber. Alguns correram bem, outros correram menos bem. Trabalhei algumas vezes pelos outros. Até que me fartei e decidi que não o ia fazer mais: saímos todos médicos e eu não tenho obrigação de fazer mais do que os outros. A verdade é que há semestres em que é difícil gerir o tempo, entre o que se gasta em aulas, no estudo, e nos trabalhinhos de grupo, as 24 horas do dia parecem não chegar, e ainda há que juntar a isso alguma vida pessoal. Apesar de tudo a faculdade é a minha prioridade, e o tempo para a vida pessoal é o que sobra quando o resto está feito. Nem toda a gente pensa assim, e isso custa-me a perceber, porque para mim há um princípio básico: a vida pessoal das outras pessoas tem o mesmo valor do que a minha.

Sunday, April 21, 2013

A todos aqueles que gostam dos Beatles, recomendo vivamente!

(Recomendaria a sessão na Cinemateca Júnior, mas foi ontem)

Thursday, April 18, 2013

Lembro-me do dia em que o meu irmão a recebeu. Uma amostra de cão, um monte pequenino de pêlo, que nem ladrar sabia. Cresceu connosco. Pregou-nos alguns sustos, um dos quais grande o suficiente para telefonarmos de urgência à veterinária a meio da noite e ela nos dizer para nos despedirmos antes de a levar para o bloco operatório. Salvou-a. Desde então de vez em quando contavamos a idade dela em 'anos que enganou a morte'. E foram muitos. Foi uma cadela perfeita, uma grande amiga de todos lá em casa. Só alguém que tenha um cão assim sabe a dor que sinto hoje. Foram 15 anos, o que corresponde a quase toda a vida de que me recordo.


(É nestas alturas que eu gostava de acreditar num céu para onde as pessoas e os cães vão depois de morrer, e onde são felizes para sempre)

Saturday, April 13, 2013

Se algum dia alguém me dissesse que a cadeira que me deixaria mais entusiasmada neste semestre seria Medicina Geral e Familiar eu rir-me-ia na cara dessa pessoa. E no entanto aqui estou eu.

(As aulas são uma treta mas o nosso projecto de investigação é tão giro!)

Thursday, April 11, 2013

As pessoas à minha volta eram todas bastante mais velhas e tinham um aspecto bem mais desesperado do que o meu. Eram quase oito horas, de um sábado à noite, e éramos quatro. Eu percorria os títulos dos livros com os olhos, à procura de um que me chamasse à atenção; à minha esquerda uma senhora dos seus cinquentas passava a mão em todos, tirando um de vez em quando para ler uma dezena de frases antes de o devolver à prateleira; sentada num banco ali perto uma mulher folheava um dos livros da OSHO, sendo interrompida ocasionalmente pelo filho com não mais de seis anos que se ia entretendo com os livros infantis; ao meu lado um homem de raça negra olhava fixamente para os livros de culinárias, na esperança de que ninguém reparasse que na primeira oportunidade passaria para a prateleira do lado. Éramos, sem dúvida, um grupo estranho. Inevitavelmente perguntei-me o que os teria levado a ir às oito da noite de um sábado à secção de livros de auto-ajuda e espiritualidade de uma conhecida livraria de um centro comercial de Lisboa. Por momentos senti-me mal, como se não tivesse o direito de ali estar a partilhar com aquelas pessoas um momento que podia ser para elas decisivo, como se as razões para eu ali estar não fossem tão válidas como as delas. Na verdade, nem sequer sabia bem quais eram as razões para ali estar.
Os meus olhos passaram por um livro que a senhora ao meu lado acabara de pousar. Na capa estava escrito com letras garrafais 'O Dalai Lama', seguido de um outro nome e, só no fundo, o título do livro: 'Um Guia para a Vida'. Com aproximadamente 300 páginas, era o resultado de várias conversas entre Dalai Lama e um psicólogo americano sobre os mais diversos temas e cujo objectivo era perceber o ponto de vista do budismo sobre uma série de situações, e de que maneira é que os princípios do budismo poderiam ajudar a sociedade ocidental na busca da felicidade. Gostei do formato: afinal de contas, sempre gostei da confrontação e discussão de ideias e princípios. Deixei um sorriso aos que por lá ficaram e dirigi-me à caixa.

O livro tem-me acompanhado nos últimos tempos. Vou a meio e, se não servir para mais nada, está a ajudar-me a ver o mundo com outros olhos enquanto o leio. Não sei se vai mudar a minha vida. Mas para já estou a gostar, e neste momento é o que importa.

Saturday, April 6, 2013

Felicidade.

Dou por mim a discutir o conceito de felicidade vezes e vezes sem conta, e a forma de a atingir. Há quem diga que a felicidade não é um ponto de chegada, é um processo. Há quem diga que a felicidade não é um objectivo final, mas o conjunto de todos os pequenos momentos em que nos sentimos bem. Talvez seja um processo que engloba todos os pequenos momentos em que vamos descobrindo quem somos e quem queremos ser enquanto crescemos. Talvez a felicidade se vá construindo. Talvez faça parte da construção da felicidade percebermos que o dia corre melhor quando tiramos dez minutos de manhã para tomar a nossa meia de leite à janela em vez de o fazermos num sítio feio e fechado; perceber que nos sentimos melhor quando saímos de casa com música nos ouvidos; perceber que cada vez nos apetece mais estar com alguém; e passar a fazer isso mais vezes. Talvez seja preciso coragem para ser feliz. Coragem para dizer: se a felicidade não é um fim, é um processo, se a felicidade não é um grande objectivo, é o conjunto dos pequenos momentos, claramente eu não estou a fazer as coisas como deve ser e está na altura de mudar. E mudar. Coisas grandes como decidir acabar com o que se construiu durante meia dúzia de anos e começar do zero. Coisas pequenas como decidir que se passa a tomar o pequeno-almoço sozinho à janela. Coisas que nem sabíamos que tinham importância, como passar a caminhar a olhar em frente em vez de olhar para o chão, olhar mais vezes à volta e apreciar a luz que o nosso país tem, dizer mais vezes 'bom dia' e 'bom apetite' e 'bons sonhos', agradecer mais vezes as oportunidades que a vida nos dá, quer seja poder estar a fazer aquilo que mais gostamos quer seja o simples facto de poder ouvir o cuco que canta agora.