Monday, September 24, 2012

Faz amanhã cinco semanas que cheguei. O tempo passou a correr, e o amor por esta terra foi crescendo ao mesmo tempo que aumentavam as saudades de casa. Há aqui coisas que não suporto. As únicas três velocidades: devagar, devagarinho e parado (que se traduz no 'leve leve' que este povo tanto diz). A desorganização que leva ao cancelamento de uma cirurgia por não haver compressas quando no dia anterior as deram para alguém secar as mãos. A forma como as crianças gritam na berma da estrada "Dôxi, dôxi, dôxi", por terem sido educadas (?) a acreditar que não importa se não temos nada, alguém nos há-de dar o que não temos. A mão minúscula de um bebé de dez meses com peso de recém-nascido, porque a mãe simplesmente nunca se importou o suficiente para o alimentar. E no entanto, na hora de me começar a despedir, agarro-me a este país como o recém-nascido de dez meses me agarrou o dedo depois de lhe ter feito um carinho. Em cinco semanas aprendi a amar esta terra. Aprendi a amar este povo que não é meu como se fosse. E na hora da despedida tenho um nó na garganta e pesa-me no peito o olhar de cada criança, o sorriso de cada uma das pessoas que eu conheci por cá, as saudades de um lugar que foi a minha casa e que não sei se algum dia vou voltar a ver. Na hora da despedida caem-me pela face as lágrimas que não apareceram em Portugal.


(Faltam menos de 36 horas para estar em casa. Até já.)

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